sábado, 25 de outubro de 2014

Divã infame

   Eu tenho vontade de colar nas minhas paredes todos os recortes de revistas e jornais que falam sobre amores e paixões que não foram muito longe apenas para confortar o meu corpo dentro desse meu literário temporal a antologia riquíssima de Drummond que embeleza minha prateleira já deve ter captado toda a energia ruim que paira sobre mim então intimamente falando creio que Carlos se compadece da minha exaustão passional todo esse esgotamento tudo o que deu o que falar e o que chorar está encruado na minha capacidade cognitiva é o puro clichê de que eu mesma estou me cortando e mastigando meus próprios pedaços a digestão como você bem sabe é lenta e a satisfação é tão vil conheço meu egoísmo mais do que conheço meu coração sei da tolice que é pensar em mudar o mundo com a caneta na mão enquanto só sei escrever sobre ego varrido pra debaixo do tapete mesmo sabendo que a miséria do mundo e sua humanidade é tão mais ordinária mas ordinária eu também sou pois não consigo mudar a mim mesma ou talvez viver como uma ratazana num bueiro fétido e escuro faça mais o meu tipo você faz o meu tipo você e todo esse seu ceticismo seu lema ''só acredito vendo'' mas fui eu quem tentou pagar pra nos ver até o fim você só largou alguns trocados na mesa para adiantar logo qualquer final quando a infância me era presente eu colecionava sabonetes por seus aromas cores formatos agora na faixa dos vinte conto os indefesos hematomas que adquiro ao esbarrar pelos móveis quando ando distraída pela casa e - ando muito - farejando resquícios de souvenirs recicláveis o meu pavor de hoje é ainda considerá-lo a minha pessoa favorita no meu pedaço do mundo parafraseando Carlos só posso concluir que se eu morrer morre comigo um certo imperfeito modo de te ver.

8 comentários:

  1. Bom... você muda sim o mundo com tua caneta talentosa e teu modo único de ver a vida. Você é capaz disso tudo pois tem talento... Quanto ao seu amor imperfeito... das duas umas: Ou esqueça-o ou mergulho de cabeça no que você pagou para ver.
    Você é uma escritora talentosíssima...
    Olhando teu rosto e teu nome... você é como toda mulher árabe...fatalista!
    Beijos e bom fim de semana...

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  2. Non deixo de abraiarme da facilidade coa que fas sentir coas túas palabras. Con cada frase que toca dolorosamente o corazón. Mesmo coa forma. Con que facilidade consegues que os demais fagamos nosas as túas propias sensacións a través dalgo tan simple como as liñas brancas sobre o fondo negro. Un pode ler cada unha das liñas e estar vivíndoa, como se se tratase da persoa que as escribiu, aínda que en realidade sexa tan distinta (e ó mesmo tempo tan similar). Só por ser humanos somos o idénticos e opostos, pero soamente é teu o mérito de non ser capaz de diferenciarse o lector do escritor até o momento en que a lectura acaba, e con pena o primeiro laméntase de verse obrigado a abandonar a pel do sufrimento do segundo.

    Non sei por que dixen todo isto. Perdín a miña cabeza. Simplemente, este escrito fíxome sentir, e pretendín dicir o que experimentei. Quixera poder ser capaz de transimitr os meus pensamentos da mesma maneira nas cousas que escribo.

    Flores, Hellen.

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    1. Que lindo que tu és, obrigada por esse comentário delicadíssimo.
      Obrigada por ler tudo o que escrevo.

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  3. [é a forma como as histórias se moldam
    na minha mente que me surpreende no papel...]
    beijo

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  4. Esse texto se assemelha a passagem de um furação, devastador!

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  5. Morrer me parecer certo, ainda me instiga muito mais a outra opção. E se viver?

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  6. Eu penso que se tu morrer, morrerá contigo uma frustração de não ser mais conhecida como deveria. Acabei de comentar no blog da Gyzelle, vocês fazem uma poesia atual, vívida, latente na pele de quem vive o dia à dia em qualquer cidade dese Brasil.Penso que isso deveria se exposto até o segundo grau, alunos deveriam aprender com quem sente, sentir a sensação da criatividade. Creio que devemos buscar isso, a liberdade das palavras com responsabilidade. Ensinar isso, o comprometimento com a realidade que é uma prisão. Alguém já disse que viver é uma morte anunciada eu só repito ...

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  7. Vim aqui ver se havia um poema novo... Uma nova inspiração tua....
    Beijos!

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