sábado, 25 de novembro de 2017

Fui te procurar na rua e meti a cabeça no poste

Se você estiver lendo isso
Quero que saiba que lembrar de você
É tão bom quanto salpicar coco ralado numa cobertura de chocolate
do bolo que fiz há pouco
Lembrar de você me remete aos tempos de ingenuidade
Tempo que eu era capaz de entregar uma carta dentro de um bar
Carta que guardei por meses dobrada várias vezes ao meio 
A dor, ela não se resume ao vê-lo beijando várias pessoas 
enquanto tenta ser grande
Nem em olhar as suas fotografias no instagram 
e imaginar que nossos filhos teriam olhos lindos se puxassem a você
Ao menos, se eu quisesse ter filhos
Esse sentimento difundido erroneamente 
que faz eu lembrar você quando alguém me magoa por querer 
Pois você só me magoou porque permiti
E voltar atrás é irremediável 
Pois não sou mais a garota entrando pela primeira vez naquele bar
E você não é Dionísio e seu nome é impublicável 
Você era o homem mais bonito da cidade para mim
Mais bonito do que o pôr do sol que seus olhos capturam 
junto da câmera do seu celular a cada fim de tarde
Mais bonito do que sua luta por justiça em voz daquele estrangeiro
Você era bonito para quem o visse através dos meus olhos
Para quem o lesse na minha poesia
Hoje você é só apenas um rosto saturado 
em meio aos transeuntes 
Conhece músicas boas
Leu bons livros
Está engajado na política 
Torce por um time de futebol
Você é só um babaca bem informado
Com lindos olhos verdes - sempre bom lembrar disso
Gosto de lembrar de você pois ajudou-me 
a aprimorar minha capacidade de construir bons versos
Veja só, construí um castelo para um príncipe pequeno.


Título: A Grandiosa, Adélia Prado. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Você me despetalou, mas esse amarelo não sai de mim

Eu não consigo mais escrever
Mas daí vou ao supermercado 
e sinto falta de ter alguém para me ajudar 
a escolher boas cebolas
Penso em você
Mas você não sabe escolher nada
Eu sei disso, porque você não me escolheu
Naquela tarde ao atravessar a rua 
tão bruscamente 
E me deparar com você, que não sabia 
como me olhar
Eu te olhei por dentro e concluí
Você cresceu demais em mim
Igual àquelas florzinhas amarelas 
que se expandem em meio ao capim
Você forrou 
a minha cabeça
o meu estômago
o meu coração
Com florzinhas amarelas
Você quis ser mais que o Sol
Sua ânsia de reluzir tudo
Fez-me esquecer que posso brilhar também
Mas você precisa cintilar sozinho.